O perdão está muito ligado à traição
Perdão? Ora, antes de mais: para ser vítima de traição, basta que confiemos. Realmente, a traição pode vir de quem não está à espera… Não estava à espera porque confiava. Quando se fala neste tema, associamos muitas vezes à questão conjugal. Mas a traição pode acontecer nas mais variadas circunstâncias e nos mais variados contextos. A traição pode, pois, arruinar-lhe uma relação, mas pode inclusivamente arruinar-lhe toda a sua vida.
Realmente, podemos ser traídos em muitos contextos: no namoro, no casamento… Pois é, mas você também pode ser vítima de traição, inclusivamente, pelos seus pais, pelos seus irmãos, pelos seus filhos, pelos seus amigos, pelas suas amigas…
“Perdão? Sim, porque fui eu que provoquei a traição!…”
Você pode estar em desespero, com uma depressão, com muita ansiedade… Realmente se foi vítima de traição pode ver, talvez, que as suas emoções invadem o seu pensamento, a sua mente, a sua alma, o seu corpo, de uma forma muito negativa, não é? Algumas dessas emoções são a deceção, a desilusão, a raiva… E pode acontecer que tudo, essencialmente, é dirigido para si…
De facto, muitas vezes, a deceção não se dirige apenas para aqueles que nos magoaram. Muitas vezes, acontece mesmo, essa deceção magoa-nos a nós próprios.
E é isso que lhe pode estar a fazer tanto mal… Não se trata, pois, de pensarmos negativamente, em relação a outras pessoas, “Como é possível eu ter confiado?!” “Como é possível ter-me feito uma coisa destas?!” O que se trata, muitas vezes, é que você sente culpa e aparece a autoculpabilização: “Eu acho que também fui responsável!”
A traição vem de onde menos se espera
Você não estava a contar. Não estava à espera… Realmente, a maior parte das vezes, as pessoas traídas nunca suporiam que isso viesse a acontecer. Precisamente porque vem de onde menos se espera.
Na verdade, a não ser que sejamos muito desconfiados, somos, geralmente, otimistas nas relações que estabelecemos. E tem que ser assim se quisermos ter relacionamentos ricos, variados. Temos, talvez, que confiar, pois se não o fizermos nunca nos relacionaremos com os outros de uma forma positiva.
Você, possivelmente, já pensou nisto tudo… Já pensou até, talvez, optar pela solidão “Se não quero ser vítima de traição, então opto pela solidão!”. Só que poderemos questionar também: “Dói mais uma traição ou dói mais a solidão?”. Será que já pensou ”Se optar pela solidão o sofrimento está certo, se optar pelos relacionamentos, a traição não está certa, não tem que, obrigatoriamente, acontecer…”. De facto, podemos pesar os dois pratos da balança e decidir…
Para que haja traição, basta haver confiança
Há muitas histórias sobre traição – por exemplo a do apóstolo Judas, com o seu beijo denunciador, e também a de Pedro, a Jesus Cristo, que o negou três vezes.
Há muitos estudos sobre o tema. Não há causas únicas para a traição. As motivações podem ser muito diferentes. Há diferentes tipos.
Não existe apenas a infidelidade conjugal, também existe, por exemplo, a traição dos pais em relação aos filhos e vice-versa. E quanto maior for o laço e o vínculo afetivo mais a traição terá impacto, mais leva ao sofrimento emocional. Na verdade, a traição de um pai, ou de uma mãe, a um filho pode magoar para a vida inteira e ter uma influência determinante no desenvolvimento emocional de uma criança até à sua vida adulta. Tudo isto é, mais ou menos, sabido…
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Mas a perceção do ato de traição nem sempre é uma coisa inequívoca. Quem trai pode achar que não o está a fazer. Quem se sente traído, pode, muitas, vezes não ter a capacidade de compreender as explicações “de quem trai”.
Ora, este tema anda muitas vezes ligado com o perdão… Vamos, então, rfletir sobre ele…
Tem mesmo que exercer o perdão?
Foi vítima de traição! E não sabe o que fazer… Pois, há milhões de pessoas nesta situação…
Mas a sua dor é muito forte… O que fazer então?… Uma das perguntas que poderá fazer desde logo é esta: “Tenho a obrigação de perdoar?” A sociedade, a religião, muitas correntes da psicologia, dirão logo: “Sim, perdoe, porque isso vai fazer-lhe bem a si! Não guarde esse rancor…”
Certo, sem dúvida! Só que isso talvez não seja assim tão fácil. Então, antes de mais: desobrigue-se de perdoar! Sim, não tem a obrigação de perdoar. E vai ver que esse será o melhor início para perdoar. Até parece uma contradição, um paradoxo… Pois, continue, por favor, a ler este artigo, porque, irá, certamente, ficar a perceber melhor que no ato de perdoar há toda uma sequência de fases… E talvez vá perceber melhor a importância do perdão – porque devemos perdoar e para que é que serve o perdão.
Está com muita zanga, talvez com muita zanga mesmo
Você, de facto, pode estar com uma enorme zanga. Pode ter uma zanga em relação à sua vida, ao mundo…
Será zanga em relação a outras pessoas, ou até consigo… Talvez esteja bem consciente disso. Ou talvez nem esteja bem a assumir que está…
Realmente, as zangas podem ser mais ou menos explícitas, mais ou menos conscientes…
É assim, sem dúvida, a vida, estamos constantemente em confronto com coisas que não gostamos, que não gostamos nos outros, e também de aspetos que não gostamos em nós…
Perdão, não?… Pois…, você está com um ressentimento crónico…
Começámos por dizer que para sermos traídos, basta que confiemos. Ora, confiamos, naturalmente, nos nossos pais… Mas, ainda que possa ser duro reconhecê-lo, poderão ser eles os primeiros algozes… Repare, ouve-se muito “Pai é pai, mãe é mãe!”. Pois é, mas sabemos que nem sempre é assim. E a ferida fica lá, a mágoa fica para toda uma vida inteira. Fica o ressentimento, mas muitas vezes não de uma forma verdadeiramente assumida.
Sim, muitas vezes está lá, mas de uma forma inconsciente.
Está lá, pois, o “trauma”…
Poderá estar não assumido, mas o que é certo é que muita gente sofre emocionalmente e, consequentemente, fisicamente – de facto está tudo ligado.
A primeira etapa do processo de perdão tem a ver com reconhecermos o sofrimento.
“Não ligues, anda pra a frente, tem pensamento positivo!…” é, realmente, uma frase que se ouve muito, mas que vale o que vale…
Poderá parecer que estamos a defender que a pessoa não perdoe… Que estamos a defender que a pessoa deve sofrer, que deve continuar ressentida, que não deve perdoar…
Mas não é bem assim… O que estamos a dizer é que a pessoa não pode automaticamente “desligar”, não pode fazer de conta que não sofre…
Nem sempre podemos desculpar, há etapas para o perdão…
Às vezes até queremos logo conceder o perdão… Ou por pressão externa, ou até porque nós achamos que isso nos vai trazer alívio… Sim, trará! Mas o perdão não tem que acontecer de imediato… Poderá acontecer, ou não, de forma rápida, ou mais lenta…
O Perdão é, na verdade, todo um processo que pode ser, mais ou menos, demorado, dependendo de pessoa para pessoa, de caso para caso… E esse processo é interior! Visa, realmente, alcançar a paz interior…
O perdão visa a paz interior
Mas esta paz não tem apenas que verificar-se quando se dá o perdão… De facto, todo processo, mesmo no seu início, já pode trazer paz interior… O Perdão não é, pois, um fim, é um meio que nos permite alcançar, gradativamente, mais paz interior!
Estivemos há dias num workshop ligado a este tema do perdão, conduzido pelo Hipnocoach Mário Rui Santos. E gostámos do paralelo que fez com as etapas do luto de Elizabeth Kubler-Ross. Estas etapas são amplamente conhecidas pela generalidade dos psicólogos e psicoterapeutas. Vamos falar disso a seguir…
Há etapas para o perdão tal como há etapas para o luto
As etapas num processo de luto, em suma, são a Negação, a Raiva, a Negociação, a Depressão e a Aceitação. Com efeito, há, no luto, uma primeira fase em que a pessoa entra em negação. É uma fase em poderemos dizer “Isto não pode estar a acontecer comigo!…”.
Depois a pessoa entra na fase da raiva “Porquê a mim? A mim que sempre fui…, que sempre agi…, que sempre me comportei…”.
A negociação…
A seguir a pessoa entra em negociação e poderá dizr “Ao menos, que eu viva pelo menos até que…”
Depois a pessoa entra mesmo em depressão: “Estou de rastos, não vale a pena fazer nada…”.
E, finalmente, vem a aceitação: “Não está ao meu alcance alterar nada, portanto o melhor é preparar-me, tudo vai, afinal de contas, ficar bem…”
Ora, Mário Rui Santos passou a inspirar-se neste modelo para dar outro significado àquilo que as pessoas em depressão ou ansiedade lhe trazem para o seu consultório…
Avançar nas etapas do processo de perdão, tal como no luto
Então, vejamos… Você está em depressão, ou com grandes níveis de ansiedade… Você está num caminho com diferentes fases. Está a fazer o seu caminho e é preciso que, desde logo, o seu psicólogo, o seu psicoterapeuta, perceba em que etapa se encontra.
Você, neste momento, poderá estar, talvez, numa etapa em que tem determinados pensamentos, determinadas crenças. E podem ser pensamentos que lhe estão a fazer mal.
Pode até estar numa fase que “nem pra a frente, nem para trás”. Será isso?…
Na verdade, poderá estar num ponto em que o seu cérebro não muda – apesar do seu cérebro possuir a capacidade de transformar, literalmente, a sua forma, através da sua inerente plasticidade, você não consegue fazê-lo, não muda…
O cérebro humano cria novas redes neuronais
De facto, o cérebro humano pode criar novas redes neuronais – novas sinapses que levam a pensar as coisas de uma forma diferente, mais adaptativa.
Portanto, você pode estar a sofrer agora, muito, porque encara determinada situação de uma determinada perspetiva. Mas a ideia é não ficar sempre aqui, a ideia é progredir, avançar nas diferentes etapas.
Só que, note bem, tem de avançar ao seu ritmo. Toda a gente tem o seu ritmo próprio. O tempo é muito importante e há que saber fazer uso dele. Porque também pode acontecer que o tempo só esteja a agravar os seus ressentimento, as suas dores, as suas raivas, as suas zangas com alguém… Ou mesmo consigo…
A primeira fase no processo de perdão é a Validação
A primeira etapa no processo de perdão é, portanto, a etapa da validação. É aquela fase em que você reconhece que está mesmo a sofrer, que está com mágoa, que está com um trauma, que é uma vítima sofredora… Tem pois, mesmo, que reconhecer que lhe dói, que a sua dor não é banal. Tem que reconhecer mesmo a sua ferida…
Voltemos a falar dos pais. Sim, é um tema difícil, mas os pais podem ser mesmo grandes causadores de traumas… E pode acontecer você dizer “Sim, o meu pai batia-me, mas todos os pais o faziam, portanto, já passou, não foi nada de especial…” Voltemos a falar dos irmãos, porque, sim, também podem traumatizar…
Mas você poderá apenas dizer “Sim, os meus irmãos fizeram-me a vida negra, mas, enfim, são aquelas coisas entre irmãos…”
É um tema para si difícil? Talvez, mas permita-se continuar a refletir sobre ele…
Para o Perdão, temos que dessacralizar os nossos pais, os nossos irmãos…
Realmente, a sociedade exerce muita pressão nesse sentido “Olha, desculpa-os, repara, pai é pai, mãe é mãe, um irmão é um irmão…” Pois é, será assim? Ou será que há pais e pais? O mesmo se passando com outras figuras de autoridade… Por exemplo, professores – será que todos os que teve ao longo da sua vida se portaram à altura consigo?
Realmente, ao longo da vida podemos ir ficando com muitos ressentimentos. E você, por exemplo, poderá ir dizendo “É uma espécie de ressentimento de estimação e até vivo bem com isso!” Ou então poderá dizer “Eu dava-lhe era com uma cadeira em cima, mas vou vivendo bem com esta minha mágoa…” Ou então são as outras pessoas que lhe dizem: “Esquece lá isso, vive mas é a tua vida em paz, põe-te em paz!” Continuemos a refletir…
A baixa autoestima é uma praga, e tem a ver com o Perdão
Dizia o mesmo autor, no tal workshop, mais ou menos isto “Todos nós nascemos com o mínimo de amor próprio, só que depois fazemos uma sabotagem…” E depois contou que na sua prática de atendimento de pessoas em sofrimento todas elas chegavam a episódios nos quais começaram a ficar zangadas, a recriminarem-se…
E contou que bastava pedir às pessoas que se permitisem fechar os olhos e começassem a introspecionar-se… Acabava por ouvir “Sim, agora estou a lembrar-me que o meu pai me desvalorizava sempre…”
Aprendermos com as nossas falhas
Ou seja, é isso… Há, realmente, muita coisa no nosso subconsciente deste tipo. Na verdade, há pais e pais. E, se calhar, não pense que só os seus pais é que têm “culpas”… Se não, repare, talvez você seja pai, mãe, irmão e nem se aperceba que também você já fez sofrer algum seu ente querido…
Sim, ainda que inconscientemente, você pode tê-lo feito… Portanto, temos que aprender também com as nossas próprias falhas, não será assim?
Reflitamos: afinal, não temos a perfeição, a imperfeição faz parte da natureza humana… Mas também podemos estar razoavelmente satisfeitos connosco… Você, por exemplo, já perguntou à sua criança interior se ela está satisfeita consigo? Se está satisfeita consigo, pessoa adulta? Está satisfeito? Não está satisfeita?..
Pergunte-se… Permita-se fechar os seus olhos e obtenha uma resposta…
É possível dar o perdão a um assassino?
A resposta à pergunta no título pode ser imediata “Obviamente que não!” Mas há tantas histórias de perdão… Por exemplo, prisioneiros de campos de concentração nazis que perdoaram… Por exemplo, pessoas que amavam o próximo, tais como Martin Luther King e Nelson Mandela, para não falar logo de Jesus Cristo…
De facto, parece ser certo, o ser humano tem a capacidade de perdoar o “imperdoável”!
Entretanto, você pode estar em condições de falar, mais ou menos abertamente, destas questões relacionadas com o ressentimento e o perdão.
Não quer ouvir falar de perdão
Mas também pode estar na situação de não gostar sequer de falar do assunto “Sim, isso está arrumado, mas não quero falar disso…” Enfim há muitas pessoas que estão nesse evitamento…
Só que não será por isso que não vão deixar de carregar esse fardo, um fardo em que o passado fica a pesar e muito… E quando isto acontece sabe o que acontece, não é?
Poisé, lá vêm os sintomas, a somatização, e há quem diga até que as doenças autoimunes terão a ver com isto, em que o corpo se destrói a si mesmo…
Voltemos às fases do Perdão
Portanto, já vimos que há a fase da Validação. É a primeira etapa. Desejavelmente essa etapa tem de existir. Porque, repare, o seu cérebro não pode perdoar aquilo que ainda não reconheceu, que não validou. Portanto, reconheça, valide, que foi magoado, que foi magoada…
Ou seja, faça a validação do seu sofrimento.
Mas você poderá dizer “Não, não estou, não quero estar para aqui a armar-me em vítima, não sou nenhum Calimero…” Pois, você não quer ser portador, realmente, do síndroma de Calimero, aquela personagem infeliz que, de resto como tanta gente, diz que as falhas são sempre dos outros.
Valide primeiro o seu sofrimento
Pode, talvez, então, não exagerar… Mas você pode ter mesmo razões para se sentir a sofrer com o que lhe fizeram… Portanto, pode validar esse seu sofrimento.
Só que, pode validar a sua dor, olhando para ela com respeito, não com autocomiseração. Pode olhar, sim, com autocompaixão que é uma coisa bem diferente…
O seu pai, a sua mãe, podem-lhe ter causado muita dor
Você pode ter sido maltratado pelos seus pais em criança… Mas até não se revoltou… Era uma criança… Só que, reflita, se visse um adulto a fazer a uma criança aquilo que lhe fizeram os seus pais, se calhar você revoltava-se, não é assim?
Você era uma criança e exerceu o Perdão aos seus pais. Mas será mesmo? Você diz “O meu pai era o meu herói!” Pois é, e não reconhece a sua dor…
Mas, para exercermos o perdão a alguém, voltemos a sublinhar isso, primeiro temos de reconhecer a dor… E essa dor, esse sofrimento, pode ser infligido, de facto, no seio da própria família… Acontece mesmo muito! Será o seu caso? Não sabe?…
Então, talvez possa fechar os olhos e permitir-se pensar nisso…
Feche os olhos e…
Veja, então, o que vem à sua mente… Ouça diálogos… Sinta cheiros, odores, emoções antigas…, sensações no seu corpo…
Realmente, há muito sofrimento não assumido… Há pessoas que contêm a sua raiva, engolem muita coisa… E isso não lhes fará bem… Há, pois, que olhar para o nosso eu, aquele que foi magoado e reconhecer a dor…
Você pode fazer isso! E pode depois olhar-se como alguém que sobreviveu, que resistiu, não como vítima, não como um calimero, mas antes como um resistente…
Você pode, então, dizer “Passei por tantos sofrimentos, mas eu respeito a forma como passei por eles, foi o que consegui fazer…”
Ou seja, pode então observar tudo, mas sem culpa!
Depois de validar, antes do perdão, zangue-se!
Pode, pois, validar que lhe infligiram sofrimento, que ainda sofre e pode, naturalmente, zangar-se. De facto, a zanga não expressa, aquela que lhe fica aí dentro de si, não é nada boa para a sua saúde mental, não é? Sabe disso, não sabe?
Então dirá você “Mas vou ficar zangado? Vou ficar com raiva? Porquê, para quê?…” É uma boa questão… Sim, se calhar você até poderá sentir muita raiva, até pode ter episódios de raiva devastadores…
No final de contas, pode acontecer aquilo que acontece a muita gente…
Sente uma raiva enorme…
Realmente, há pessoas que têm uma fúria destruidora contra outros, coisas, ou até mesmo para elas próprias… Você pode ter, pois, alguma dessa raiva, uma raiva que tem de ser tratada… Mas como fazê-lo?
Continue a ler, pode ser que encontre a sua resposta nas linhas que se seguem…
O tratamento dessa raiva pode incluir você respeitar que tem direito a essa mesma raiva! Ou seja, que tem direito a zangar-se pelo mal que lhe fizeram… Mas depois, você irá avançar…
Vamos então prosseguir no “protocolo do perdão”…
Pode ser?… Isso mesmo…
Depois da Validação e da Zanga, siga para a Compreensão
A Compreensão é a etapa nº 3 do “Circuito do Perdão”… O que é isso? Nada mais que o seguinte: aquilo que aconteceu pode ser observado de fora, ou seja você pode ser um observador externo… E pode fazê-lo julgando, emitindo juízos, condenando… Poderá por exemplo, dizer “A minha mãe foi sempre uma manipuladora e controladora, só me fez mal, era uma egoísta…”
Sim, você tem direito a fazer a esse tipo de julgamentos…
Mas agora note que o que acontece, quando fazemos esses julgamentos, é que se verifica um efeito paradoxal…
O efeito paradoxal no processo do perdão
Que efeito é esse?… Vamos continuar a refletir…
Ou seja, pode pensar “Aquele meu amigo, a minha mulher, o meu marido, o meu pai, a minha mãe, o meu irmão, o meu colega… foram incorretos, falsos, mentiram, não me respeitaram, não deviam ter feito isso…” Pois, pode julgar, mas também pode permitir-se compreender…
Mas como? Quando é que isso poderá acontecer?
Pois, lá chegará o tempo… Não tem que acontecer logo… Há coisas que levam o seu tempo… Pode ainda estar na fase de julgar… Então julgue, e sem culpas… Vai ver que lá chegará, à Compreensão! Chegará ao seu ritmo…
Tenha, pois, presente: muito provavelmente, o seu cérebro nunca aceitará o que não compreende. E jamais compreenderá o que não aceita… Portanto…
No Perdão, depois da Compreensão, lá virá a Aceitação
Recapitulemos: na 1ª etapa reconhecemos o sofrimento, ou seja, que nos magoaram; na 2ª etapa temos direito a expressar a nossa zanga; na 3ª etapa vamos compreender… Ora, depois disto, poderemos exercer a Aceitação!
Perguntará você: “Mas então eu tenho que aceitar aquela traição, o mal que me fizeram, tenho que me resignar?”
Não, a resposta não vai nesse sentido. Não tem, pois, apenas que se resignar, que concordar…
Aconteceu e pronto!
A resposta poderá ir mais no sentido de que poderá aceitar apenas que aconteceu e pronto… É tipo uma observação factual… Aconteceu, é um facto, até pode descrever tudo, mas fá-lo de uma forma desapaixonada, fazendo um retrato tipo jornalista isento.
Pode, assim, continuar nesta linha, dizendo, por exemplo “Aconteceu assim, foi o que foi…” Isso é aceitar, sem comparar com nada, sem comparar com ninguém…
É constatar e pronto! Ou seja, como ouvi dizer no tal workshop “Os cães não miam, os gatos não ladram…” Portanto é o que é, ou melhor, foi o que foi… O seu pai foi o que foi! A sua mãe fez o que fez! O seu namorado agiu como agiu!…
Agora sim, pode vir o Perdão
Na verdade, o “verdadeiro perdão” só acontecerá mesmo depois da verificação das etapas anteriores. Ou seja, virá só depois de reconhecer a sua dor, de se ter zangado, de ter julgado e depois compreendido, e de ter aceitado, sem, claro, se resignar …
Estamos pois na Etapa 5 do “Protocolo do perdão”. É a etapa em que podemos perdoar… Perdoar mesmo! E perdoar não é, realmente, esquecer, apagar da sua memória… Pode lembrar-se, só que a emoção que acompanha essa lembrança já não é a mesma…
Vai, pois, poder lembrar-se, mas de uma forma tranquila, serena, com paz interior… Muito provavelmente até vai esquecer-se de se lembrar…, porque já não lhe dói…, já não está zangado, já compreendeu, já aceitou…
E a partir daqui, você vai continuar num caminho de autodesenvolvimento…
Artigo a ser continuado, explanando-se o que se seguirá depois do Perdão…