Psicologia do Coaching

É mais comum falar-se do coaching psicológico, e não da psicologia do coaching, mas escolhemos este título para introduzir um assunto algo polémico…Terá, na verdade, o coaching alguma coisa a ver com a psicologia? Naturalmente, sim!... E, será que se pode dizer, sem desprimor para os coachs, que um psicólogo pode fazer coaching, que um psicólogo faz o que muitos coachs fazem, mas um coach não pode fazer tudo o que um psicólogo faz?

Profissão não regulamentada

Vejamos... O coach não tem a sua profissão regulamentada, ao contrário do que acontece com o psicólogo. No entanto, o coaching tem crescido muito em todo o mundo e em Portugal também. Há, pois, cada vez mais coachs, há cada vez mais cursos de formação em coaching, cobrando-se todo o tipo de valores, por vezes bastante altos, parece-nos... Ora o coaching mexe com os aspetos emocionais de uma pessoa. Se uma pessoa, para alcançar determinado objetivo, se calhar o seu sonho, precisa de um coach, então vai precisar de trabalhar muitos aspetos emocionais que interferem, naturalmente, no seu comportamento. Portanto, o que vai acontecer, afinal de contas, salvo melhor entendimento, é psicologia, psicoterapia, aconselhamento psicológico, psicoterapia de apoio, apoio psicológico...

Formação em coaching

E em relação à formação? Será que um coach tem a mesma preparação técnica e científica de um psicólogo? Será que uma formação, em princípio mais curta, de coaching é equivalente à formação de um psicólogo? Estará um coach preparado para lidar com as várias vertentes emocionais da pessoa, tal como um psicólogo ou um psicoterapeuta? Ora, talvez um psicólogo possa não dominar todas as técnicas e as ferramentas que um coach utiliza, mas se o quiser fazer, tem, parece-nos, todas as condições para o conseguir.

Há, certamente, bons coachs, há certamente maus psicólogos, mas a reflexão, talvez, não tenha que ser feita nestes termos. A tónica tem, talvez, que ser posta na ética, na deontologia, na regulamentação ética e deontológica. Os psicólogos têm um código deontológico que têm de cumprir - o Estado Português investiu de autoridade nesta matéria a Ordem dos psicólogos Portugueses.

Pós-graduação em coaching

Existe uma pós-graduação em coaching psicológico acreditada pela Ordem dos Psicólogos Portugueses. É desenvolvida pela Sociedade Portuguesa de Psicologia que considera o coaching “um ato psicológico assente numa relação colaborativa, orientada para resultados através dum processo dual entre um coach e um coachee que visa a melhoria de desempenhos profissionais/pessoais e o desenvolvimento pessoal”. A fundamentação para a existência de uma pós-graduação deste tipo tem em conta os tempos atuais que estão a exigir da Psicologia “respostas inovadoras que permitam aos indivíduos oriundos de um largo espectro de profissões, uma utilização mais plena dos seus recursos e potencialidades e o reforço das suas competências profissionais e pessoais”.

A missão ou o propósito da psicologia do coaching, se preferirmos, do coaching psicológico, é levar a “a mudanças comportamentais, assente em teorias, modelos e instrumentos psicológicos”. Um psicólogo formado em coaching estará apto especialmente para “o exercício de uma vertente da relação de ajuda com uma procura incremental em todo o mundo e centrada na produção de mudança no curto-prazo”.

Ainda no âmbito desta pós-graduação específica, o psicólogo coach é formado por um corpo docente que “integra especialistas certificados internacionalmente em coaching e em outras modalidades de intervenção psicológica, com experiência consolidada, como coaches junto de um vasto painel de executivos e líderes em organizações de referência assim como de indivíduos que procuraram nesta abordagem, uma ajuda concreta à mudança de atitudes e comportamentos”.

Psicólogos que são coachs

Um psicólogo coach, nesta perspetiva, é um profissional com formação especializada em Modelos de Intervenção em coaching Psicológico, Desenvolvimento Pessoal, Competências do coach e Ética, Gestão de Talentos e do Potencial Humano, Gestão da Carreira ao longo da Vida, Executive coaching, Health coaching... Um psicólogo coach é, ainda, alguém que tem formação ou vivências psicoterapêuticas no sentido do fortalecimento do seu autoconhecimento e gestão de si-próprio, que desenvolveu uma atitude de melhoria contínua.

Existem muitas associações ligadas ao coaching, que desenvolvem muita formação com base na PNL. Neste sentido, um coach está associado à imagem de alguém que consegue clarificar propósitos de vida, objetivos e estabelecer plano de ação para os atingir. Faz uso de ferramentas que levam a que a pessoa tenha confiança, esteja no caminho certo no decurso da sua vida.

Enfim, há cada vez mais coachs que são também psicólogos, ou vice-versa. Há cada vez mais coachs com formação em hipnoterapia, assim como psicólogos igualmente com formação em hipnose, talvez, em especial, da corrente Eriksoniana. Estarão, pois, estas duas intervenções a fundirem-se cada vez mais?

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Coaching versus psicoterapia

Portanto, será então o coaching uma coisa diferente da psicoterapia? Na verdade, o coaching centra-se na resolução de algo com uma certa especificidade, no alcançar de determinados objetivos, de uma forma célere, quantificada. Mas será que na psicoterapia não acontece isso também? Considera-se, comumente, que a psicoterapia é mais profunda que o coaching. De facto, parece não haver dúvidas, que na psicoterapia se vai mais fundo na análise das emoções, dos pensamentos, das memórias, talvez não apenas em determinado foco, como no coaching… Mas há hoje em dia abordagens psicoterapêuticas que também são mais focais, veja-se o caso do EMDR, que também procuram resolver algo mais específico, que procuram atingir, de cada vez, apenas determinado objetivo.

É claro que na psicoterapia o foco depois poderá alargar-se, porque se percebe que muitas vezes o sintoma que a pessoa apresenta faz parte de algo mais vasto e complexo, ou seja, tem em conta que é preciso atacar as verdadeiras origens do problema, enfim a real causa do problema.

Uma das coisas que também se refere como diferenciador é a questão da duração da intervenção. Refere-se que o coaching é uma abordagem breve, que implica apenas algumas sessões… Mas fará sentido continuar a defender este aspeto, hoje em dia, em que começam a aparecer cada vez mais psicoterapias igualmente breves? Mais uma vez falamos do EMDR que pode solucionar perturbações emocionais graves em apenas 3 sessões…. É certo que, muitas vezes, depois de tratarmos um foco em psicoterapia, poderemos querer tratar outro, porque ele se manifestou mais consciente, mas isso não é o que acontece no coaching quando a pessoa manifesta querer atingir outros objetivos?

Fala-se também da questão da contratualização… Ora, tanto no coaching como na psicoterapia, os resultados podem ser “contratualizados”, acordados numa primeira sessão. Refere-se também que no coaching se quantifica de modo rigoroso o resultado das sessões, mas em psicoterapia também o podemos fazer, bastando usar escalas de avaliação que as há profusamente em psicologia, para não falar das provas psicológicas, instrumento da exclusividade dos psicólogos.

Refere-se que o coach treina ou acompanha o treino da pessoa de modo a que este atinja o objetivo.  Mas não é isso que um psicoterapeuta também faz? Talvez a relação no coaching não seja igual à relação psicoterapêutica, ou sequer do mesmo tipo…  De facto, numa relação psicoterapêutica, a pessoa vai poder resolver os seus conflitos intrapsíquicos, os seus bloqueios mais profundos, os seus traumas, enquanto que no coaching isso, em princípio, não acontecerá.

O que talvez diferencie então o coaching de uma psicoterapia poderá ser o facto das novas aprendizagens feitas pela pessoa não serem generalizáveis a outros domínio da sua vida. Mas será mesmo assim? Será que no coaching a pessoa não muda também estruturalmente como na psicoterapia? Será que não se transforma mesmo noutra pessoa?

Portanto diríamos que o coaching e a psicoterapia são realmente processos diferentes, mas em que há linhas de convergência, matérias que se sobrepõem, em que muitos dos objetivos são semelhantes, e que passam por a pessoa crescer mais em termos de desenvolvimento pessoal, por ver resolvidas muitas das suas temáticas perturbadoras em prol de uma vida mais plena, com significado, mais serena, com mais felicidade.

O que verdadeiramente importa é que o cliente consiga ter acesso a ajuda profissional, no seu crescimento pessoal, na resolução dos seus problemas e se torne mais efetivo e feliz na sua vida. E isto, tanto se consegue pelo coaching, como pela psicoterapia.

Psicólogo, coach ou psicoterapeuta?

Em suma, a fronteira entre um psicólogo, um coach e um psicoterapeuta poderá ser mais ténue do que parece. Na PSICOVIAS fazemos psicoterapia EMDR, acompanhamento psicológico, psicoterapia de apoio, "consultoria" em psicologia, de uma forma integrativa, holística, com a convergência de diversas perspetivas e abordagens. Faremos então também coaching? Talvez, não sabemos ao certo, mas, deixando o inglês de lado, fazemos, com certeza, treino, neste caso, de emoções que, em conjunto consigo, estamos dispostos a trabalhar, em termos de traçarmos o caminho que lhe possibilite alcançar os seus objetivos...

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