Psicologia Positiva

Há muita informação sobre Psicologia Positiva na Internet, muitos livros, muitos artigos.

Assim, resolvemos ir à fonte, ou seja, ao próprio fundador desta corrente, Martin Selingman para aqui trazermos uma definição de Psicologia Positiva pelas suas próprias palavras. Deste modo, fazemos uma tradução livre a partir de um vídeo onde este psicólogo dá uma conferência sobre esta corrente da psicologia.

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Apresentamos, pois, algumas das suas reflexões e proposições, de uma forma completamente livre e até com alguma ficção...

Martin Selingman começa, no início da sua conferência, por contar algumas histórias. Uma delas passou-se quando ainda era o presidente da Associação Americana de Psicologia. Conta ele que um jornalista da CNN, numa gravação para um programa, lhe pediu uma espécie de súmula para o mesmo e, portanto, perguntou-lhe:

— Pode dizer-nos, numa palavra, como é que está o estado da psicologia nos dias que correm?

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Martin Seligman, pensando um pouco, respondeu:

— Boa! ( A psicologia está boa!)

Mas o jornalista disse-lhe que talvez fosse pouco, que experimentasse duas ou três:

— Não está boa! (A psicologia não está boa!)

O jornalista disse-lhe, no entanto, que também talvez ainda fosse pouco, que experimentasse três ou quatro palavras:

— Não está boa o suficiente! (A psicologia não está boa o suficiente!)

Era então sobre isto que Martin Selingman ia falar: que a Psicologia estava boa, que não estava boa, que não estava boa o suficiente…

— A psicologia está boa…

Pensa um pouco, e começa a falar da psicologia quando esta seguia o modelo da doença:

— Há dez anos atrás, se eu estivesse num avião e se me apresentasse ao meu colega de assento e lhe contasse que era Psicólogo, ele provavelmente afastar-se-ia de mim. Isto porque a Psicologia estava associada a algo de errado em nós, a doença, a perturbação mental…

Depois de falar mais um pouco sobre esta questão, diz que agora já não é bem assim:

— Agora, quando digo às pessoas o que faço, elas aproximam-se de mim!

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A seguir, Martin Seligman divaga sobre a questão de se terem inventado tratamentos com drogas. E fala também de se terem inventado tratamentos psicológicos. Fala da capacidade que os cientistas têm de os testar com rigor, através de estudos aleatórios, controlados por placebo. Fala também do facto da psicologia e da psiquiatria, nos últimos anos, terem conseguido minimizar as perturbações das pessoas, tornando-as menos sofredoras…

E acaba por concluir:

— E eu acho isso ótimo. Estou orgulhoso disso. Só que há três coisas que não foram boas.

Depois de uma pequena pausa, a pensar, expõe a primeira:

— A primeira coisa tem a ver com o facto dos Psicólogos e dos Psiquiatras se terem  tornado vitimologistas, patologizadores, ou seja, as pessoas tinham perturbações porque eram vítimas de algo que lhes tinha acontecido, com origem nos pais, na sociedade, enfim, num trauma qualquer…

Passa a expor a segunda:

— A segunda coisa que foi boa, foi que os Psicólogos e os Psiquiatras se esqueceram das pessoas, esqueceram-se que as pessoas podem melhorar por si mesmas, que elas podem tornar-se pessoas mais despreocupadas, mais felizes, com uma vida com mais significado, com mais realização pessoal…

E, finalmente, expõe a terceira:

— O terceiro problema tem que ver com o modelo de doença. Portanto, centrados na doença, aos Psicólogos e aos Psiquiatras nunca ocorreu desenvolver ações para tornar as pessoas mais felizes, com intervenções positivas…

Explica, então, que foi ao tomar consciência disto que ele, Martin Selingman, e mais três colegas começaram a trabalhar numa abordagem a que deram o nome de Psicologia Positiva:

Como nasceu a Psicologia Positiva

— Sim, foi isto que me levou a mim e a Nancy Etcoff, Dan Gilbert e Mihaly Csikszentmihalyi a trabalhar em algo a que chamo "Psicologia Positiva", que tem, essencialmente, três objetivos…

Começa, então, a expor o primeiro objetivo da Psicologia Positiva:

— A Psicologia não deve estar só preocupada com a fraqueza, a fragilidade, com a falta, com o negativo, deve estar também preocupada com a força humana, com as forças que cada ser humano tem. Não deve estar apenas preocupada com a reparação dos danos, deve também preocupar-se com a construção de forças, com as coisas boas da vida, com a genialidade, com o talento, com aquilo que faz realmente a vida valer a pena! Ou seja, afinal de contas, com aquilo que tem a ver com a Felicidade!

Sobre este primeiro aspeto, acrescenta ainda:

— E podemos medir a Felicidade, podemos medir diferentes formas de felicidade.

E explica como é que isso se pode fazer:

— Vão ao site www.authentichappiness.org... Lá vão encontrar muitos testes de felicidade.

Marttin Seligman continuou a sua palestra, agora debruçando-se sobre as emoções:

— Vocês podem perguntar como é que nós nos conseguimos empenhar numa emoção positiva… Pois, é que nos estudos que fizemos, descobrimos que podemos descobrir a causa dos estados positivos… Sim, a relação entre a atividade hemisférica esquerda e a atividade hemisférica direita é muito importante para a felicidade.

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Mas volta à questão das diferenças entre pessoas felizes e infelizes:

Eu passei minha vida a trabalhar com pessoas extremamente sofredoras, e eu fiz a pergunta: como é que as pessoas extremamente infelizes diferem do resto de nós, os “normais”? E como é que as pessoas extremamente felizes são diferentes de nós?

Martin Selingman passa então a dar respostas:

As pessoas extremamente felizes não são mais religiosas, não estão em melhor forma, não têm mais dinheiro, não são mais bonitas, não vão a eventos especiais…a única coisa que os faz diferentes é que eles têm um grande social...

E brinca com a plateia:

Essas pessoas extremamente felizes não estão aqui como vocês, não vêm a um seminário como este a um sábado de manhã…

Passa então explica melhor o segredo da felicidade:

As pessoas extremamente felizes não estão todo o tempo sozinhos. Têm relacionamentos românticos, têm amigos…

Mas interrompe o seu raciocínio para frisar a seguinte mensagem:

A Psicologia, para além de “curar os doentes mentais”, para além de sua missão de tornar as pessoas sofredoras menos sofredoras, pode tornar as pessoas mais felizes! Só que temos que ver melhor o que é isso de felicidade, o que é isso de ser feliz…

Há diferentes tipos de vidas felizes

Passa então a explicar:

Há categorias diferentes, há tipos de vidas felizes diferentes.

E refere que um dos tipos de vida feliz é a “vida agradável”:

A vida feliz “agradável” é aquela que procura ter o máximo de emoções positivas. É aquela em que procuramos ter tantos prazeres quanto pudermos, tantas emoções positivas quanto pudermos, e em que procuramos aprender a prolongá-las, a saboreá-las, com atenção plena, para que se prolonguem no tempo e se multipliquem no espaço…

Martin Selingaman, no entanto, refere que não está totalmente na nossa mão ter esse tipo de vida:

A vida agradável, a nossa experiência de vida agradável tem muito a ver com a nossa hereditariedade, não é totalmente aprendível… E, atenção, as emoções positivas começam a perder efeito, a vida agradável começa a perder a força, é um pouco como nas drogas… Ao princípio gostamos, mas depois habituamo-nos, entra na rotina, e as coisas já não nos dão tanto prazer…

Refere que outros tipos de vidas felizes são a “vida com empenhamento” e a “vida com significado”:

A vida com empenhamento é aquela em que o tempo para, não damos conta do tempo passar, tal o nosso empenhamento…

Interrompe, entretanto, o seu discurso, para contar a história de um amigo seu, que ilustra como a Psicologia Positiva é mais do que emoções positivas, é mais do que construir prazer...

O meu amigo era um multimilionário, chefe de uma grande empresa, era um bom jogador de bridge, campeão nacional, só que no amor era um fracasso total… E porquê? Porque não tinha habilidades para as mulheres. Elas achavam que ele não era divertido, que não tinha as tais emoções positivas…

Martin Selingman continuou a contar a história do seu amigo:

Como o meu amigo era muito rico, tinha dinheiro para pagar a um bom Psicanalista, e andou durante cerca de cinco anos a tratar aquele seu trauma que o impedia de ser uma pessoa com emoções positivas ao pé das mulheres…Enfim, ele queria saber porque é que ele bloqueava as emoções positivas dentro dele quando estava ao pé de mulheres… Só que não havia trauma nenhum…

Continuou a contar mais alguns pormenores…

O meu amigo vive num sítio onde joga futebol, onde vê futebol, onde joga bridge…E eu pergunto? O meu amigo é infeliz? Eu respondo-vos que não, aliás é uma das pessoas mais felizes que conheço.

O "fluir" é diferente do prazer

Explicou melhor porquê:

É que o meu amigo tem uma enorme capacidade de “fluir”… É que, quando ele entra na sua empresa logo de manhã, começa a “fluir” e só para quando a empresa fecha, no final do dia… É que, quando ele começa a jogar bridge, começa logo a “fluir” e só acaba de “fluir” quando o torneio acaba… É o tal “fluir” de que o meu colega psicólogo Mike Csikszentmihalyi fala…

Explica, então, melhor o que é o “fluir”:

O “fluir” é diferente do prazer… O prazer é como que uma sensação crua… No prazer nós sabemos o que está a acontecer… estamos a pensar, temos pensamento, estamos a sentir, temos sentimento… Mas no “fluir” é diferente… Por exemplo, o meu amigo, quando está a trabalhar com paixão na sua empresa, não está a sentir nada, o tempo para ele para, está numa grande concentração. E isto é que é uma boa vida…

O tempo da palestra estava a esgotar-se, já não demoraria muito para terminar mas, antes disso, Martin Selingman, queria fazer ainda alguns sublinhados:

Portanto, temos que saber quais são as nossas melhores forças para as pormos ao serviço do fluir… Porque, realmente, o prazer é importante, ter emoções positivas é importante, mas o empenhamento e o significado também têm que estar presentes para que haja um fluir eudaemoniano…Temos, pois, que conhecer os nossos pontos fortes e usá-los em prol de uma vida agradável, de uma vida boa, mas também, sobretudo, de uma vida com significado, com empenhamento…

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Sublinhou a importância do mindfulness:

— Realmente, com o mindfulness, podemos aprender a ter uma vida mais agradável, a termos mais prazer nas nossas vidas, podemos aprender a saborear de uma melhor forma um lindo dia…

E brincou mais uma vez com o auditório:

— Olhem, porque não, no próximo sábado vocês podem programar um lindo dia e saborearem com atenção plena os prazeres que forem ocorrendo. Aí vocês estarão a aumentar o nível da vida prazerosa…

Depois sublinhou a importância da gratidão. Para tal, pediu às pessoas que se encontravam na plateia para fazerem um exercício:

— Fechem os olhos. Lembrem-se de alguém de quem tenham recebido algo importante, que, eventualmente, até tenha mudado a vossa vida… Alguém a quem ainda não tivessem agradecido devidamente… Que esteja ainda viva… Ok, abram os olhos agora…

E continuou a explicar o exercício:

— Portanto, vocês vão escrever um testemunho para essa pessoa. Vão ligar a essa pessoa, ou então perguntar se podem fazer-lhe uma visita, mas não digam o motivo… Liguem-lhe, visitem essa pessoa… vão ver o que acontece… Olhem, muitas vezes o que acontece é que há choro…, muitas vezes de ambas as partes…

Benefícios da gratidão

Depois falou dos benefícios de exercício da gratidão e de como isso estava provado cientificamente:

— E isto está estudado em termos científicos… O que acontece, quando testamos as pessoas uma semana depois, um mês depois, três meses depois, é que as pessoas estão mais felizes, ou menos deprimidas… Realmente, os estudos apontam para o facto da filantropia contribuir mais para a felicidade do que o simples prazer… Ou seja, quando fazemos algo altruísta, ou quando somos filantropos, o benefício que colhemos daí dura e dura… Contribui, realmente, muito para aumentarmos o nível da nossa felicidade…

Significado e Empenhamento nas nossas vidas

Ia mesmo terminar a sua conferência:

— Portanto, recapitulando, o prazer é importante, termos prazeres é importante, mas buscarmos significado para as nossas vidas é mais importante em termos da nossa felicidade… Assim como empenharmo-nos é mais importante que buscarmos apenas as emoções positivas, a vida agradável…. Enfim, tudo contribui, mas nós sabemos que o total é mais do que a soma das partes… Portanto a vida plena, a vida feliz é o total dessas partes todas…

Quase a terminar:

— Portanto diminuir o sofrimento não é a mesma coisa do que aumentar a felicidade… Realmente, há una anos atrás, eu, como psicoterapeuta, achava que se conseguisse que alguém deixasse de estar deprimido, deixasse de ser ansioso, deixasse de ser agressivo, era suficiente para o fazer feliz … Mas não, nunca constatei isso…

A terminar mesmo:

— As competências envolvidas para aumentar a felicidade, para levar a uma vida mais agradável, para levar a uma vida com mais significado, com mais empenhamento, para o fluir e sentido de vida, são diferentes daquelas que estão envolvidas no processo de aliviar o sofrimento… Portanto aliviar o sofrimento e aumentar a felicidade são coisas diferentes! A Psicologia Positiva ocupa-se, pois, não do PIB, não do Produto Interno Bruto, mas da FIB, da Felicidade Interna Bruta. A Psicologia Positiva faz, pois, diminuir o sofrimento, mas faz mais: aumenta a nossa Felicidade Interna Bruta!

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