Culpa – como lidar com a sua

Culpa, nas nossas vidas ela existe, realmente…

Culpa porque existe a tirania do “Devo!”, do “Tenho que!”, do “Deveria ter feito de outra maneira…

Enfim, é a obsessão de que as coisas deviam ter acontecido de determinado modo! E se não aconteceram de certa maneira, mesmos as mais insignificantes, achamos que nos comportámos de forma desastrosa, que falhámos. E que merecemos, assim, sofrer!

O sentimento de culpa é muito nocivo para o nosso bem-estar…

Muitas vezes queremos corresponder às expetativas dos nossos pais, da família, dos amigos… E aqui entra, realmente, a culpa. Ela entra aqui porque consideramos não nos termos esforçado o suficiente para, por exemplo, correspondermos aos seus desejos. Enfim, a nossa moral coletiva judaico-cristã ataca-nos. E atacam-nos, de facto, os vários ditames da sociedade. São, enfim, as religiões, e aqui pode entrar a ideia de pecado. Entra, pois, a culpa pelo “pecado” cometido, quando não conseguimos comportar-nos de acordo com determinadas normas.

Só que o sentimento de culpa, como se sabe, é muito nocivo para o nosso bem-estar emocional. De facto, muitas vezes, a culpa traz-nos emoções negativas que nos impedem completamente de sermos minimamente felizes. Podemos, de facto, carregar esse sentimento pesado relacionado com o nosso passado e isso pode-nos corroer por dentro.

Culpa, quando não sabemos como ultrapassar o sofrimento

Com efeito, o sentimento de culpa pode ser extremamente nocivo para o nosso bem-estar psicológico. Pode-nos afetar de uma forma prolongada. E, às vezes, não nos apercebemos bem que ele está presente – pode afetar-nos de um modo inconsciente ou subconsciente. Podemos até perceber que estamos nessa tendência, mas não percebemos bem o que se passa, nem a sua origem. Ou então estamos cheios de culpa e de vergonha e não sabemos como ultrapassar o sofrimento que isso nos dá.

É claro que a culpa ou, melhor dito, a antecipação da culpa, por causa da nossa moral, é salutar, porque nos faz moderar alguns dos nossos “maus impulsos”. Mas aqui estamos a falar de responsabilidade, estamos a falar daquilo que está ao nosso alcance mudar. Portanto, a “culpa”, em doses proporcionadas, faz-nos corrigir e melhorar determinados comportamentos no futuro.

Só que em doses desadequadas pode-nos, com efeito, fazer muito mal. É o caso de quando alguém se martiriza: “Deveria ter-me aplicado mais!”; “Deveria ter tido mais cuidado!”; “Deveria ter ajudado mais!”; “Deveria ter-me comportado de outra forma!” …

Culpa, com pensamentos que alimentam a crença

De facto, podemos ser assaltados por pensamentos ruminantes que não estão no aqui e agora – estão, de facto, focados no passado. São pensamentos que alimentam a crença de que, se as nossas ações tivessem sido outras, o nosso presente seria melhor. E isso, naturalmente, afeta a possibilidade de andarmos serenos. São pensamentos que se centram no sofrimento… São juízos de recriminação sobre o que fizemos.

E, frequentemente, somos nós próprios que os emitimos de forma solitária – ainda que, muitas vezes, o nosso juízo também seja afetado pelo crédito que damos ao juízo de outros.

Ora, muitas vezes, as nossas ações não poderiam ter sido outras. As coisas aconteceram assim, porque, de facto, não o pudemos fazer, ou não o conseguimos fazer de outro modo. Portanto, podemos permitir-nos não ter culpa, e essa escolha é nossa. Podemos, pois, aceitar que o que fizemos foi o possível com as circunstâncias da altura, e com os recursos que então possuíamos.

Ou seja, se tivesse sido hoje, faríamos, com certeza, de outra forma, mas, na altura, fizemos daquela maneira. Podemos, pois, aceitar incondicionalmente aquilo que não foi possível ter sido feito de outro modo.

Não havia como o fazer de outro modo

Podemos, pois, praticar a autoaceitação e continuarmos a gostar de nós incondicionalmente! Se o fizermos, o juízo dos outros não nos vai afetar e, portanto, não interferirá com o nosso grau de serenidade. Podemos pedir, ou dar, perdão aos outros, ou a nós próprios, porque ofendemos, negligenciámos, enganámos…. Podemos tentar não repetir o que nos pode amargurar mais tarde.

Mas também podemos permitirmo-nos aceitar o que fizemos. E podemos fazê-lo de forma incondicional. Podemos pensar, pois, que não havia como o fazer de outro modo – tudo isto para que possamos continuar a gostar de nós incondicionalmente!

Realmente a autoaceitação pode ser a grande solução. Talvez o único modo de fazer frente à culpa que nos adoece. Porque, muitas vezes, temos culpa, temos vergonha… Mas como deixar ir então embora estes sentimentos de culpa? Pode ser muito complicado… Porque, realmente, é uma emoção que sentimos quando acreditamos que fizemos algo de errado.

Culpa, nós somos os juízes

E quando sentimos que fizemos algo de errado, achamos que cometemos um erro, que fizemos uma má escolha. Portanto, muitas vezes, a culpa está ligada ao facto de acharmos que magoámos alguém. E sentimos que precisamos de sofrer por isso., que temos de pagar por isso, que temos de como que nos penitenciar…

Mas por quanto tempo?  Ora, somos nós que decidimos quanto tempo nos devemos sentir culpados. Porque nós somos os juízes. Mas isto pode ser, portanto, complicado. Porque, por exemplo, quando crianças, fomos ensinados por pais, avós, educadores que não mereceríamos amor, aceitação, ou mesmo perdão, se cometêssemos erros.

Podemos deixar ir embora a culpa…

Ora, todos nós fizemos coisas das quais não nos orgulhamos. Só que essa dor ligada à culpa não precisa de viver sempre connosco. Podemos deixá-la ir embora. Aliás, convém que o façamos. Porque se não o fizermos, ficamos com um fardo que nos mantém aprisionados emocionalmente. De uma forma negativa, mal adaptativa.

E isso tem reflexos em todas as áreas, afetando-nos mentalmente, fisicamente, espiritualmente… Mas, vejamos, não somos nós os responsáveis pelo nosso próprio bem-estar físico e emocional?

Há, pois, que mudar crenças e isso pode ser feito em psicoterapia levada a cabo por psicólogos certificados. Realmente há técnicas para introduzir essas recognições. Vamos dar um exemplo do discurso interno que deverá ser feito precisamente para isso –  sendo que deve ser adotado a cada situação mais específica… E convém que cada pessoa o faça, que mude as palavras de modo a tenderem às suas necessidades mais individuais…

Um script para a autoaceitação..

“Embora eu sinta culpa por algumas coisas que fiz, eu aceito-me a mim mesmo completamente! Apesar de me sentir como me sinto, com culpa e vergonha, a punir-me pelos meus erros pelas coisas más que fiz, pelos erros que cometi, eu aceito-me mesmo assim!”

“Mesmo que pareça que não me aceite a mim mesmo, eu estou aberto a desistir da minha culpa, para precisamente me aceitar incondicionalmente! Apesar de ter esta culpa que parece que é até uma maneira de eu me punir, eu aceito-me como me sinto, eu quero até explorar os vários aspetos desta culpa que eu realmente sinto… Eu sinto realmente essa culpa, mas para que me serve?… Eu acho que esta culpa me serve porque eu percebo que fiz algo muito errado, portanto é a minha única maneira de me sentir melhor…”

“Eu mereço sentir-me culpado…”

“Acho que preciso de sentir esta culpa para me sentir melhor. Eu tenho que sofrer com esta culpa. Talvez, sim, eu precise mesmo de me sentir culpado… Eu mereço sentir-me culpado, eu mereço sentir-me envergonhado. Eu agredi alguém e isso não foi correto. Portanto não estive bem. Eu sei que feri pessoas.  Portanto é muito difícil deixar isso para lá. Essas pessoas estão muito aborrecidas comigo. Fazem-me sentir culpado. E eu realmente sinto-me culpado. Eu mereço sentir-me mal. É a minha penitência…”

“Mas quanto tempo me devo sentir culpado? Se me sentir culpado para sempre, como vai ser? Devo-me sentir culpado por um dia? Por uma semana? Por um ano?… Realmente talvez eu tenha feito algo que eu não me orgulhe. E por isso sinto que estive errado… Mas posso desculpar-me, posso perdoar-me, posso consertar toda esta culpa e vergonha … Mas eu acho que não posso deixar isso acontecer, porque esta é a única maneira que eu tenho para me sentir melhor. Tenho que carregar esta culpa….”

Decido que sou eu mesmo o juiz…

“Mas esta culpa é tão dolorosa… É tão doloroso carregar esta culpa! É um fardo tão pesado! Até dá cabo do meu corpo. Até me dá dor, tanta tensão no meu corpo, até me sinto doente… O meu corpo está cheio desta culpa… E quem é que me pode dizer quanto tempo devo carregar este fardo? Se calhar eu posso ser o juiz… A menos que alguém me diga que eu devo sentir-me culpado para sempre…. “

“Mas eu decido que sou eu o juiz. Eu decido, mais ninguém o pode fazer. Eu decido como me sinto num determinado momento. Então, eu posso escolher. O que eu escolho aqui? Fui eu que escolhi as minhas ações más. Então também posso ser eu a decidir o tempo que eu preciso para me punir punido. O que é eu escolho em relação a isto? “

“Eu também posso fazer algo de bom para mim…”

“Eu estou aberto a escolher. Eu não estou orgulhoso do que eu fiz, mas isto pode acabar agora mesmo. Eu posso escolher fazer as coisas de forma diferente…  Eu posso optar por deixar de ter esta culpa daqui para a frente. Eu posso fazer algo gentil por outra pessoa, não é?”

“Então eu talvez possa fazer algo amigável também para mim. Eu posso fazer algo de bom para a comunidade. Portanto eu também posso fazer algo de bom para mim… Eu posso largar esta culpa deixando-a para trás e avançando com a minha vida para a frente. Eu posso libertar-me.  Eu posso dar permissão para deixar partir esta culpa e esta vergonha…. “

“Eu perdoo-me!…”

“Apesar dos meus erros, eu ainda sou uma boa pessoa. Eu não preciso ser definido pelos meus erros. Eu mereço ser amado e aceite, independentemente dos meus erros. E perdoo-me, portanto, a mim mesmo. E também perdoo as pessoas que me fazem sentir culpado… Eu perdoo!… Porque é hora de achar que já sofri o bastante. Eu já sofri o suficiente.”

“Eu dou-me, então, permissão para me desculpar, para me perdoar. Eu peço desculpas. Assim fico bem. Eu fico bem. Eu fico com paz interior. A quaisquer pensamentos, emoções, memórias que me incomodam eu dou-lhes permissão para se irem embora. Eu quero seguir em frente na minha vida.”

Culpa e a terapia da autoaceitação

Portanto esta é uma abordagem psicoterapêutica pela autoaceitação. E continuando a reflexão, perguntemo-nos, então: o nosso presente seria melhor se tivéssemos no passado agido de outra forma? E será que um comportamento “mau” vai implicar forçosamente um futuro “mau”? Pois, nem sempre, porque de coisas “más” acabam até por surgir coisas “boas”. Portanto, parece que não é possível dar uma resposta categórica a estas questões.

Mas, o que parece é que, efetivamente, estar preso ao passado, com culpa, não ajuda a melhorar o presente. Porque não, então, viver o presente, o aqui e agora, sem culpa? É claro, não deixando de usar a aprendizagem que fizemos com os erros cometidos, com os “pecados” contraídos… Porque de coisas negativas conseguimos, com efeito, retirar aspetos positivos que contribuam para o nosso desenvolvimento pessoal. Portanto, se quisermos, tornar-nos-emos pessoas cada vez melhores, utilizando as lições resultantes das nossas falhas, dos nossos erros, dos nossos defeitos, das nossas limitações como simples seres humanos….

Podemos estar sempre a crescer…

Podemos, pois, autoaceitar-nos. Vivendo o presente, o aqui e agora – enfim, usando a experiência passada, inclusivamente os erros cometidos, os pecados contraídos, mas sem culpa. Podemos até, se o fizermos sem culpa, retirar coisas positivas de acontecimentos negativos. E tudo isso pode, de facto, contribuir para o nosso desenvolvimento pessoal.

Com efeito, se quisermos, podemos estar sempre a crescer, a tornarmo-nos pessoas cada vez melhores. Em suma, as nossas falhas, os nossos pecados, podem contribuir decididamente para tal. No entanto, por vezes, temos memórias de experiências geradoras de culpa demasiado perturbadoras.

Podem ser situações que, simplesmente, não correram conforme as nossas expetativas, mas que nos geraram também culpa. Ora, para isso, lá está o sono durante o qual sonhamos e tentamos reparar as nossas experiências quotidianas. É o chamado sono REM (Rapid Eyes Movement). Nesta fase do sono, ao sonharmos, mexemos os olhos acompanhando imagens a desfilarem pela nossa mente.

EMDR, solução para a culpa

Só que nem sempre tudo corre da melhor forma. Enfim, ocorrem os sonhos recorrentes, com as mesmas temáticas. Pode haver até dificuldades para iniciar o sono, ou então existirem apenas sonhos curtos. Podem verificar-se acordares violentos na sequência de pesadelos. Ou seja, a severidade do conteúdo traumático vai impedir que o sistema processe de forma conveniente determinadas memórias perturbadoras.

E aqui a pessoa sofre, estando impedida de fazer uma vida minimamente adequada. Sente-se infeliz, sente-se angustiada, sente-se sem paz interior, sente-se esgotada, sem esperança…

Já falámos aqui, na PSICOVIAS, da psicoterapia EMDR.  De facto, é uma abordagem que através, designadamente, de uma estimulação bilateral alternada vai ativar o sistema nervoso parassimpático. Essa estimulação vai, com efeito, auxiliar a pessoa a dessensibilizar e a processar acontecimentos perturbadores.

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E esses acontecimentos podem estar relacionados com muitas situações.  Por vezes relacionam-se com experiências de traumas em que a pessoa não teve qualquer culpa. Só que a pessoa, muitas vezes, distorce, ainda que involuntariamente, os factos… E tem uma vivência de culpabilidade muito intensa e amargurada.

De facto, através do EMDR, a pessoa, em vez de continuar no pensamento repetitivo “A culpa foi minha!”, passa a pensar “Fiz o que estava ao meu alcance!”, “Eu não pude fazer mais!”. Porque, enfim, o passado já passou, já não o podemos alterar. Há, pois, que viver no aqui e agora. Até porque o futuro, esse, de facto, nunca o alcançaremos. Na verdade, estamos sempre no presente.

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