Autoaceitação e autoestima para o crescimento pessoal
Autoaceitação e autoestima tantas vezes ligadas… A maior parte das vezes, a nossa é assaltada por cognições negativas. São pensamentos “maus”, incómodos, relacionados com “problemas” diversos. E muitas vezes até nos focamos nas soluções para essas dificuldades. E isso parece que será a estratégia adequada. Mas será mesmo? Pois, talvez não, porque, de facto, o que temos de fazer é exercer a autoaceitação. E isso vai ter repercussões na nossa autoestima… Vejamos…
Pensamos “Não fiz o suficiente para alcançar determinado objetivo, portanto preciso de fazer mais, essa é a solução…” E, portanto, vamos centrar-nos na solução que é trabalharmos mais. Só que, muitas vezes, isso, realmente, não será mesmo a estratégia mais acertada. Na verdade, trabalhamos mais e, mesmo assim, o problema fica longe de ser resolvido.
Flexibilidade psicológica
Portanto a estratégia terá de ser diferente para uma autoaceitação que eleve a autoestima… E porquê?… Porque se formos inflexíveis, muitas vezes é, precisamente, essa inflexibilidade que nos provoca perturbações nas nossas vidas. Há, pois, que criar distância em relação aos nossos pensamentos negativos. De facto, há que pôr em prática a flexibilidade psicológica.
Para isso, antes de mais, temos que estar conscientes de vários fenómenos que se passam na nossa mente. E muitas vezes o que se passa é, como já referimos, a negatividade. Ora, portanto, temos que estar abertos a essa negatividade. Temos, pois, que aceitar as nossas dificuldades. Portanto, temos, mesmo, que estar conscientes das nossas limitações.
Há ainda coisa muito importante. Que é o compromisso. Ou seja, também temos que estar comprometidos com os nossos valores. E aqui a entram as nossas escolhas e as nossas decisões – que dependem totalmente de nós!
Autoaceitação e autoestima ou literalidade?
Já ouviu falar da literalidade do pensamento? Talvez já saiba que é um tipo de pensamento muito presente em quadros de autismo ou de asperger… Mas, a literalidade também se encontra nas pessoas “normais”, enfim, em todos nós. É o que se chama de fusão cognitiva. De facto, todos nós podemos “sofrer” de fusão cognitiva. Este “fenómeno” verifica-se quando nós exercemos um controlo excessivo sobre os nossos pensamentos negativos.
De facto, muitas vezes não percebemos as nossas cognições como simples cognições. Achamos que determinado pensamento tem mesmo um sentido literal. Ou seja, ignoramos o contexto, as experiências que já tivemos sobre determinada temática. E depois é mesmo o pensamento a exclusiva fonte de regulação das nossas emoções e do nosso comportamento.
Autoaceitação e autoestima – a defusão cognitiva
Na Psicoterapia da Aceitação e Compromisso (Acceptance and Commitment Therapy – ACT) procura-se que a pessoa faça o inverso, que faça a defusão cognitiva para que determinados pensamentos não tomem conta do seu comportamento. Na defusão cognitiva a ideia é que a pessoa minimize a credibilidade e o impacto de determinados pensamentos e sentimentos disfuncionais. E isso é feito através de uma metodologia que visa alterar o contexto funcional de eventos internos.
Vejamos, podemos observar os nossos pensamentos e sentimentos como se estivessem fora de nós. Podemos repetir esses pensamentos como se estivéssemos, por exemplo, a recitar a tabuada, de um modo infantil ou ridículo… Assim podemos ir até cantarolando “Estou a ter um pensamento de que sou um fracassado!”, “Estou a ter um pensamento de que sou um falhado!”, “Estou a ter um pensamento que…”
Outra coisa que podemos fazer é notar que podemos estar a “sofrer” de evitação experiencial… Ou seja, podemos estar a adotar um comportamento evitativo em relação a determinadas situações que antevemos como stressantes. Ou seja, comportamo-nos no sentido de não estarmos disponíveis para pensarmos sobre determinados assuntos que nos são desagradáveis. Evitamos, pois, os estímulos que nos provocam pensamentos e emoções negativas. Mas será isso o mais correto?
Autoaceitação e auto estima – assumamos o controlo
Aceitar, praticar a aceitação, sem, no entanto, ficarmos passivos ou resignados. Aceitar, de facto, pode ser o caminho certo para a nossa mudança. Um dos exemplos que se dá para se perceber este conceito é a imagem do autocarro no qual seguem vários pensamentos, emoções e sentimentos. Só que quem vai ao volante somos nós. Ou seja, podemos transportar vários passageiros que não nos agradam, que podem ter um ar ameaçador, mas nós é que estamos no controlo. Portanto não são os passageiros que têm o destino do autocarro.
Na verdade, podemos aceitar que determinados pensamentos negativos sigam connosco, sabendo, no entanto, que eles não podem assumir o comando da nossa vida. Temos é que conhecer o nosso objeto de vida, saber quais são os nossos valores e segui-los. Ou seja, mesmo na presença dos tais passageiros incómodos, podemos seguir o nosso rumo. Porque, de facto, se prestarmos mais atenção aos passageiros do que ao nosso objetivo, não vamos conseguir seguir a direção a que nos propomos. Ou seja, vamos passar a nossa viagem preocupados com os nossos pensamentos e emoções negativas e não com o nosso rumo.
Adotemos um self observador
Exercer uma atenção rígida? Ou prestar uma atenção flexível que nos permita ter prazer na nossa “viagem”? Com efeito, quando levamos a nossa vida com uma atenção rígida, é porque, provavelmente, estamos mais preocupados com o passado do que com o presente. É porque estamos a antecipar para o futuro problemas que podem nunca sequer vir a verificar-se. Enfim, assim, estaremos a viver a nossa vida de uma forma ausente, em mindless. Ora, pelo contrário, se adotarmos uma atenção flexível, podemos viver mais o aqui e agora de um modo mais funcional, mais mindfulness.
E há, de facto, técnicas para podermos viver com uma atenção mais plena à nossa vida, para que promovamos uma atenção maior ao presente – a meditação mindfulness ou a autohipnose, por exemplo. Com ela podemos fazer exercícios para verificarmos mentalmente o nosso corpo, percebendo que sensações físicas estão presentes. E podemos fazê-lo como simples observadores, adotando, pois, um self observador de experiências, sejam elas, ou não, adversas.
Mas há outras estratégias que podemos igualmente adotar. Podemos, até, vimos alguém dar este exemplo algures, considerar que a nossa vida é um tabuleiro de xadrez. É um tabuleiro em que os nossos pensamentos e emoções negativas são as peças. Ora o resultado do jogo não afeta o tabuleiro. Podemos, pois, deixar que os nossos pensamentos e emoções joguem como se fossem peças. E podemos estar de fora, simplesmente, a observar, adotar, pois, o papel do self observador.
Autoaceitação e autoestima – ajamos conforme os nossos valores
Portanto, os nossos pensamentos e as nossas emoções não vão afetar a nossa vida. Esta decorrerá, não à sua mercê, mas sim segundo os nossos próprios valores. De facto, muitas vezes, como já referimos, as pessoas apenas se focam em objetivos, em alcançar coisas, em alcançar metas. Ora, os nossos valores não são coisas alcançáveis, estão sempre presentes, já foram alcançados, digamos assim. Há apenas que manter a direção da nossa vida em consonância com esses valores.
Mas, claro que isto nem sempre acontece. Na verdade, há pessoas que ainda não têm os seus valores bem definidos. Essas pessoas podem precisar de uma psicoterapia que os ajude nesse propósito de clarificação e de encontro consigo mesmos. Ora, há técnicas que podem ser usadas em psicoterapia para isso mesmo, para que a pessoa faça a regulação do seu comportamento em função dos seus valores e não dos seus pensamentos atormentadores.
Autoaceitação e autoestima, o compromisso
Na Psicoterapia da Aceitação e Compromisso o grande objetivo é que haja a tal aceitação de que já falámos atrás. Mas que haja também um compromisso para que efetivamente assim aconteça. É a chamada ação comprometida, com padrões comportamentais em que há, com efeito, uma consonância com uma vida em que se é inteiramente responsável pelos próprios atos.
Deverá pois existir uma ação comprometida em que se verifique, de facto, uma coerência entre comportamento e valores. E isto tem de ser feito de um modo contínuo, em que haja lugar a reavaliações, sempre que for o caso – porque os nossos valores também podem mudar, sem dúvida.
Conceitos comuns com designações diferentes
Enfim, estamos, pois, aqui a falar de conceitos ligados à Psicoterapia da Aceitação e Compromisso (Acceptance and Commitment Therapy, ACT). Mas será que estes conceitos são apenas desta abordagem? Enfim, a psicologia ainda é uma ciência relativamente recente… Mas, ao que parece, já vamos com mais de cinco centenas de abordagens psicoterapêuticas diferentes – é, pois, natural que cada vez mais encontremos conceitos comuns, ainda que com designações diferentes. Mas o que verdadeiramente importará é eficácia dos diversos modelos.
De facto, sobre este ponto, adotamos uma postura eclética e integrativa, na qual, muitas vezes, privilegiamos o EMDR, uma abordagem psicoterapêutica em que os conceitos apresentados mais atrás também estão igualmente presentes… Mas integramos também outras abordagens psicoterapêuticas: Hipnoterapia, Cognitivista e Comportamental, EFT