Trauma… Você quer naturalmente saber uma resposta…, se pode superar sem recorrer à medicação… Sim, é possível!
Aliás, considera-se hoje que os métodos psicoterapêuticos, utilizados no tratamento do trauma, são muito mais eficazes que os métodos medicamentosos.
Vamos aqui falar sobre a psicoterapia EMDR. Será que já conhece?
O EMDR é uma abordagem psicoterapêutica na qual, após poucas sessões, se obtêm altas taxas de sucesso.
Mas, antes, vamos ver o que se entende por traumas em psicologia…
Sabe mesmo o que é um trauma psicológico?
Realmente, um trauma psicológico pode traduzir-se numa perturbação, muitas vezes crónica, que traz grande sofrimento à vida de uma pessoa. Será o seu caso? Conhece alguém?…
Talvez já tenha ouvido falar da Perturbação de Stress Pós-Traumático (PTSD)
Talvez você saiba que as pessoas com esta perturbação voltam como que a experienciar o trauma. Será que tem esta perturbação? Conhece alguém?
Enfim, se tem sabe que faz tudo para evitar as situações que lhe fazem lembrar a situação original traumática. Não é?…
De facto, as pessoas com esta perturbação andam quase sempre numa enorme excitabilidade, pensam no acontecimento traumático mesmo quando não querem.
Na verdade, o evento traumático vem-lhes à memória quase constantemente, sentem que tudo está a acontecer de novo… É como se ainda não tivesse passado nenhum tempo sobre a ocorrência do evento perturbador…
Portanto, toca a fugir de tudo a que se assemelhe ao trauma original…
Sim, as pessoas com perturbações do tipo de stress pós-traumático têm pesadelos, evitam determinados lugares, evitam certos temas de conversa, evitam ver determinadas imagens na TV, em livros, em jornais…
Conhece alguém com um trauma assim? Será o seu caso?…
Será que lhe aparecem memórias que não consegue reprimir? Que lhe aparecem aquelas memórias intrusivas. Será que tem a ausência da sensação básica de segurança.
Sente insegurança? Anda com sentimentos de desconfiança em relação aos outros? Será que se instalou em si uma grande preocupação e incerteza? Será que se interroga, frequentemente, se os outros gostam de si?
Ou então conhece alguém que, para além disso tudo, acha que tem culpa pelo que aconteceu? Que tem vergonha…
Muitas vezes as pessoas culpam-se…
Sim, e não apresentam, de facto, as estratégias mais corretas para lidarem com o seu trauma.
Portanto, em resumo, as pessoas vítimas de traumas psicológicos severos apresentam reações emocionais exageradas.
Será que anda com insónias?
Ou será que anda com um grande nível de ansiedade, com irritabilidade?… Sim, a sua vida pode andar muito difícil… Talvez ande com crises de choro frequentes… Ou tenha a sensação de enlouquecimento…
Poderá andar com todas as suas emoções emergirem de forma muito rápida e avassaladora. Com emoções muito vivas relacionadas com a situação traumática que viveu… Será isso?
Enfim, tudo isto são, realmente, sintomas que levam a pessoa a um extremo cansaço, a um enorme desconforto, à exaustão, a uma fadiga crónica…
Sabe que há trauma…, com T grande… e com t pequeno?
Talvez você tenha sofrido um grande trauma…
Nesse caso, quaisquer situações banais e coisas triviais, que no passado não lhe causavam qualquer problema, podem agora trazer-lhe uma grande perturbação… É isso?
Sim, há situações que podem funcionar como disparadores, como gatilhos… E estes disparadores podem, efetivamente, provocar uma enorme perturbação à pessoa.
Em traumas relacionados, por exemplo, com acidentes rodoviários, a pessoa pode sentir uma enorme ansiedade quando volta a conduzir… Os seus níveis de adrenalina sobem-lhe a pique… O seu coração começa a bater desenfreadamente… A pessoa pode até ter ataques de pânico quando tenta voltar a conduzir.
Realmente, ter um trauma é ter o caos interior…
Você pode não ter apenas crises de choro. Pode também ter muitas dores de cabeça. Pode ter pesadelos horríveis. E pode, então, perceber que está com um problema muito profundo… Você sente-se com uma verdadeira impotência, sente-se, talvez, perante algo que não consegue controlar.
Você sente-se, portanto, à mercê de memórias perturbadoras que até parece que ganharam vida própria, que irrompem de repente, a toda a hora. É isso? Anda assim? Conhece alguém que poderá estar a passar por isto?
Ou talvez sinta uma espécie de caos interior que teima em não desaparecer. E talvez sinta que não sabe bem o que se está a passar consigo. Sabe apenas que está com um sufoco, que dentro de si está um grande mal destruidor, altamente perigoso, esmagador.
Mas, continuemos a falar de traumas…
Sabe que há situações que podem ser um trauma para uns, mas não para outros?
Sim, as grandes desgraças, os graves acidentes, as devastadoras catástrofes, as grandes tragédias podem provocar traumas. Mas não é obrigatório que provoquem um trauma a toda a gente…
Vejamos, em psicologia há um conceito que é o coping… Tem a ver com o modo como a pessoa lida com determinada situação, interna, ou externa, num determinado momento.
Ora, coping é diferente do conceito de resiliência… A resiliência tem a ver, digamos, com totalidade das experiências de coping da pessoas… E, portanto, as situações podem ser traumáticas para uns e não para outros.
De facto, há situações que podem causar ansiedade, medo, sentimentos de extrema vulnerabilidade, fragilidade e impotência a umas pessoas, mas não a outras.
Sabe que há o trauma com origem no medo de morrer?
Os psicólogos têm-se debruçado sobre estes assuntos ligados à vivência de situações traumáticas. Têm sido feitos diversos estudos científicos e algumas conclusões apontam para o nosso medo de morrermos…
Realmente, quando testemunhamos um evento muito perturbador, por exemplo, um grave acidente de automóvel, o trauma pode surgir por causa da associação que fazemos com o nosso medo de morrer.
E sabe que o trauma também atinge as crianças, não é?
Sim, muitas crianças presenciam eventos horríveis.
Mas, às vezes o trauma pode acontecer quando a criança “apenas” está a ver televisão, a assistir a determinados programas. Podem ser, de facto, cenas que as assustam terrivelmente. Pode acontecer num momento em que estão sozinhas e sem qualquer tipo de informação enquadradora. Podem estar, pois, a ganhar medos e ansiedades crónicas do foro traumático.
Conhece alguma criança assim?
Talvez você tenha um filho ou uma filha… Sim, podem ter sofrido traumas não intencionais… Mas, sabe-se que há “traumas intencionais”, ou seja, há traumas provocados pelas pessoas propositadamente.
E há crianças que podem ser vítimas de determinadas ações que podem ser repetidas durante um longo período de tempo. É o caso da violência sexual e física reiterada…, sabe disto não é?
E estas ações têm, realmente, um maior potencial de dano…
De facto, as situações repetitivas geram reações de stress mais graves, isto comparativamente a traumas que ocorreram apenas uma vez e de forma acidental.
É o caso, por exemplo, de um acidente de automóvel. Na verdade, um único acidente pode não causar forçosamente um trauma… Também saberá, não é?
Agora, vejamos também…
Você pode ter um trauma, mas pode não conseguir identificá-lo facilmente…
Realmente, muitas vezes, o trauma não é facilmente identificável. Por exemplo, você pode apresentar dores corporais. E essas dores nem têm correspondência a uma causa física, que seja diagnosticável… Os médicos não lhe encontram nada…
Pois é, mas podem ser produto do tal stress emocional, resultante de um trauma que lhe aconteceu lá atrás, no passado….
Faz-lhe sentido?
Com efeito, os estudos referem que as perturbações psicossomáticas podem ser desencadeadas por traumas psicológicos. Você talvez admita isto… Só que você não identifica a origem traumática dos seus sintomas físicos… É isso?
Continuemos a refletir…
O trauma é uma ferida emocional…
Vejamos a origem da palavra trauma… Muitas palavras portuguesas derivam do grego, e trauma é uma delas. Significa ferida. Ora, as feridas podem ser apenas ligeiros arranhões, ligeiras escoriações, mas todas precisam de tratamento, não é?
Realmente, há feridas físicas de todos os tipos: contusões, lesões, amputações, ferimentos de bala, etc. Às vezes são só arranhões, é certo, mas mesmo esses precisam de ser tratados….
Mas um tratamento errado pode piorar a lesão. De facto, pode complicar o processo de cura. Por exemplo, se a ferida for mexida de um modo não adequado isso pode acontecer.
Ora, o mesmo se pode passar com as nossas feridas emocionais… Ou seja, de repente, podemos ficar com um ferimento emocional.
Pode ser causado, por exemplo, pela censura injustificada de alguém ao nosso comportamento. E lá ficamos nós com uma “pequena contusão emocional”, com um “ligeiro inchaço emocional”, com um “pequeno corte emocional”…
De facto, vão-nos acontecendo várias experiências negativas ao longo da vida.
E o que nos vai valendo é toda a nossa rede de suporte. Temos os nossos familiares, os nossos amigos. Enfim, temos um sistema de apoio formado por pessoas que nos ouvem.
Mas nem sempre temos… Podemos ter pessoas que nos ajudam a ser resilientes. Podemos ter pessoas amigas que nos ajudam a continuarmos em frente.
De facto, assim dizem os estudos, nós conseguimos ser mais resilientes se formos apoiados, em vez de sermos censurados, criticados, condenados, julgados…
Sim, você poderá estar a precisar de ser ouvido, de ser ouvida… Mas sem julgamentos, com empatia, com compreensão…
O trauma pode estar na origem de muitos conflitos
Só que essa rede, muitas vezes, nem sequer existe. E a pessoa fica, então, muito fragilizada… Depois, a sociedade nem sempre apoia quem mostra fraqueza.
E, muitas vezes, essa “fraqueza” já vem de uma tenra idade…
De facto, o trauma pode vir de experiências adversas na infância, na qual foram estabelecidas conexões negativas.
Podem ter origem, por exemplo, em negligência, abuso. Pode, por exemplo, ter a ver com o crescimento num lar com pais alcoólicos. Pode ter a ver com uns pais em permanente conflito, com pais na prisão, etc, etc.
Podem ser várias as circunstâncias com uma carga negativa.
E podem ser circunstâncias, cujas consequências têm reflexos muito importantes na vida adulta. São circunstâncias que podem, por exemplo, formar seres humanos conflituosos. E esses seres humanos poderão até causar conflitos à escala mundial, com crises geopolíticas, com guerras…
Portanto, talvez não seja exagerado dizer que o trauma emocional não curado pode ser o grande causador de muita da conflitualidade existente no mundo…
O EMDR é uma psicoterapia especial para o trauma “grande” e “pequeno”
Portanto, temos que começar por nos curarmos primeiro a nós mesmos… Porque se as nossas feridas emocionais estiverem saradas, poderemos mais facilmente ajudar os outros a fazerem o mesmo.
Mas para isso, na verdade, temos que estar conscientes dessas nossas mesmas feridas.
Realmente, só assim as poderemos enfrentar.
Enfim, podemos até não saber exatamente quais são os seus contornos, mas temos que perceber que há qualquer coisa que nos está a ferir emocionalmente. E depois temos que fazer algo, temos que “partir para a ação”…
A ação pode ser, efetivamente, fazer EMDR…
Com efeito, o EMDR pode ser, precisamente, uma metodologia psicoterapêutica a seguir. O EMDR é um processo bem estruturado que começa por enquadrar a pessoa de modo a que esta consiga fazer um bom diagnóstico da sua problemática…
Depois, o EMDR leva a pessoa “partir para a ação” através de determinadas estratégias terapêuticas centradas em sintomatologias dissociativas.
É, enfim, um processo que vai promover a comunicação interna e esta comunicação interna consiste, precisamente, em tomar consciência do que se está a passar naquele dado momento dentro de si…
Há que tratar as memórias ligadas ao trauma
Portanto, com o EMDR pretende-se que a pessoa tenha um melhor conhecimento de si mesmo, que abra as suas perceções internas sobre as mais variadas temáticas. E, em sessões EMDR, uma pessoa até pode não ter grandes recordações da sua infância. Pode apenas lembrar-se de pequenas coisas.
Mas, a partir de certa altura, pode vir-lhe à memória, por exemplo, de como o seu pai foi violento consigo em determinada altura…
É assim que, a partir daqui, a pessoa pode começar a reviver determinadas recordações mais dolorosas. Pode até começar a sentir-se mal fisicamente.
De facto, numa sessão EMDR tudo aquilo que estava reprimido, relativo ao passado, pode começar a ser consciencializado como fazendo parte integrante do presente. Ou seja, noutro contexto, a pessoa até poderia dizer que toda a sua infância foi normal. Mas o que é certo é que não foi…
Houve, efetivamente, lugar a traumas, que estão ainda lá a causarem sintomas mal adaptativos.
Tratar do trauma através das diversas fases do EMDR
Portanto, numa primeira fase do EMDR há que perceber a temática perturbadora. Noutra fase explicam-se todos os detalhes sobre o procedimento.
A seguir, vai haver uma focagem em determinada lembrança da mente. Enfim, uma que se julgue ser de importância central para o problema. Depois observam-se os pensamentos que estão associados à imagem principal perturbadora.
Observam-se também os sentimentos mais presentes. E também o que é que o corpo sente….
Enfim, o psicoterapeuta EMDR pede à pessoa que faça uma classificação de 0 a 10 em relação à cena traumática, em que dez é o máximo de perturbação observada. Seguem-se outros passos, até que passa a haver estimulação bilateral ocular, auditiva ou tátil, conforme a pessoa preferir…
Fazer estimulação bilateral para tratar do trauma
Portanto, fazendo-se ao mesmo tempo a estimulação bilateral, a pessoa é levada a entrar em contacto com a lembrança perturbadora. Vamos perguntando o que vai observando, se nota alguma modificação, se, nas memórias que vão surgindo, vai acontecendo algo.
Vai, pois, havendo como que uma espécie de associação livre, tal como acontece na psicanálise.
Depois, mais à frente, vai-se continuar com o pensamento positivo que se escolheu para trabalhar, de modo a que a pessoa se perceba, a determinado momento, mais fortalecida. Vai-se também trabalhar a atenção a todo o corpo, de modo a fazerem-se desaparecer todas as tensões que possam existir.
A seguir, no final de uma primeira sessão, pede-se à pessoa que observe o que vai acontecer durante a semana, de modo a perceber as mudanças ocorridas em si. São ao todo oito fases, no final das quais, sendo cada caso um caso, a pessoa regista mudanças significativas em si.
Ou seja, a pessoa vais observar um alívio da carga emocional negativa associada ao tal evento traumático.
Há explicações, mas ainda nem tudo está bem esclarecido…
Há muitas explicações para o que parece acontecer… Em princípio, os traumas ficam armazenados na memória traumática…, que é diferente da memória “normal”…
As memórias traumáticas provocam, efetivamente, sintomas. E isto porque são memórias que não se integram, que não se interligam com as outras memórias. E ficam, portanto, armazenadas de forma mal adaptativa.
Os estudos de imagiologia apontam para aí, de facto. São estudos nos quais se descobre, por exemplo, que o stress traumático leva à ativação de outras regiões do cérebro diferentes das que são ativadas por uma situação também de stress mas que foi normalmente resolvida…
No EMDR vamos dessensibilizar e reprocessar o trauma
Em suma, o EMDR é uma abordagem que trabalha com a dessensibilização e a reprogramação de informações. Fá-lo através de estimulação bilateral dos hemisférios direito e esquerdo do cérebro.
Foi inicialmente desenvolvido para transtornos pós-traumáticos, como guerras, catástrofes e violações. Só que, mais tarde, começou a perceber-se que também era uma abordagem indicada para outras situações de natureza “menos” traumática.
Enfim, situações que “apenas” incomodam, que causam um certo desconforto, mas que desequilibram a pessoa. Só que são situações que a levam a pensar de uma forma desadaptada. Que instalam crenças que ficam cristalizadas negativamente…
Realmente, podem ser situações como, por exemplo, a perda do emprego ou o fim de um relacionamento. Na verdade, estas situações podem ser, muitas vezes, altamente traumáticas na vida de uma pessoa.
De facto, podem impedir o processo adaptativo de informação natural. Podem impedir que a pessoa adapte a informação associada de uma maneira funcional. E, portanto, pode levar a pessoa a adaptar-se de uma forma distorcida.
O EMDR pode ser uma psicoterapia muito breve
Ou seja, a estimulação bilateral vai trabalhar com as lembranças das situações problemáticas. Vai ajudar a dessensibilizar e a reprogramar a informação. E isto de modo a poderem surgir crenças positivas. Portanto, a levar que as coisas, que antes estavam a incomodar, passem a não perturbar mais, deixem de provocar sofrimento.
E, com isso, a fazer com que deixem de provocar sensações, emoções e comportamentos disfuncionais.
Estamos, pois, diante de uma psicoterapia muito breve que atua em várias áreas do cérebro, conforme dizem os estudos científicos já realizados.
De facto, há, como já referimos atrás, comprovação científica feita através de exames tomográficos que dão conta que a estrutura do cérebro antes e depois de um trabalho de EMDR é, efetivamente, diferente.
Enfim, há quem diga que é um casamento perfeito entre a psicoterapia cognitivo – comportamental e a hipnose. Que é ideal para trabalhar com traumas reprimidos e recalcados.
E o que é certo é que organizações mundiais de saúde, incluindo do mundo da psiquiatria, consideram que o EMDR é altamente eficaz nos quadros de depressão, de ansiedade, de fobias e outros.
Há muitos traumas em crianças
Será o EMDR aconselhável também para crianças? De facto, nas crianças, o trauma pode afetar severamente o seu desenvolvimento normal. Pode afetar a sua evolução em geral, na escola, no caminho da sua autonomia, na aprendizagem de novas tarefas.
Pode, portanto, afetar o seu cérebro, levando-a diminuir o seu desempenho, a deteriorar os seus relacionamentos pessoais.
Uma criança traumatizada pode, pois, começar a reagir de forma mais agressiva aos outros. E o seu auto-conceito pode também degradar-se. Ou seja, uma criança pode começar a perceber-se a si como alguém com defeito, sem qualidade, ficando desmotivada, apática, sem vontade de ir à escola…
E aqui os pais, naturalmente, ficam angustiados. Há uns que procuram, felizmente para todos, a ajuda de um psicólogo ou psicoterapeuta que os entenda, que os ouça, que os apoie…
O EMDR é uma psicoterapia que segue protocolos específicos
E, quando o fazem, começam logo por perceber que não estão sós, que há outras pessoas no mesmo tipo de situação e que também não sabem o que fazer… Mas, de facto, conversar não chega.
Realmente, muitas vezes, diz-se que basta desabafar. Diz-se que a psicoterapia é só isso, e, talvez por isso mesmo, há pessoas que consideram que não precisam de psicoterapia. Outras acham que precisam, realmente, de desabafar e recorrem a um psicoterapeuta.
Realmente, para o EMDR, não basta falar sobre determinados assuntos mais difíceis para os resolver. É, com efeito, uma psicoterapia que envolve protocolos específicos com técnicas bem definidas. Que exige qualificações especiais, que exige que o psicoterapeuta domine essa técnicas e que seja também especializado nas questões do trauma.
Em Portugal há um diretório no qual se podem pesquisar quem tem as competências necessárias para levar a cabo uma psicoterapia EMDR.
O EMDR tem muita coisas em comum com outras psicoterapias…
É claro que o EMDR também tem muita coisa comum com outras abordagens psicoterapêuticas. De facto, ocorre num espaço em que o profissional, sendo especialista, possui, em princípio, conhecimentos específicos que o paciente não tem.
Ocorre num espaço de encontro presencial, numa relação de confiança, de trabalho, de igualdade, em mútuo acordo acerca das diversas etapas da psicoterapia que vai ser seguida. Tudo isto numa parceria em que o psicoterapeuta clarifica e apoia. Mas em que o paciente também tem um papel muito ativo na busca dos elementos mais importantes a tratar.
No EMDR estabelece-se, com efeito, uma parceria, digamos, de igual para igual.
No entanto, é natural que a pessoa possa manifestar alguma apreensão acerca do que lhe vai acontecer durante a psicoterapia EMDR. Pode, de facto, interrogar-se sobre se, realmente, irá ser capaz de seguir todos os passos, se terá que ser forçado a fazer alguma coisa que não está disposta a fazer.
Ora, isto tudo é natural.
É certo que as pessoas vão ter que trabalhar com memórias penosas, mas vão fazê-lo de forma apoiada ao longo de toda a psicoterapia. Na verdade, é um processo que é devidamente controlado, orientado e que ocorre em ambiente “protegido”.
É possível acabar com as memórias traumáticas
Pode haver casos, em especial com crianças, em que haja dificuldade na cooperação. Mas um psicoterapeuta competente saberá como atuar para que esta se exprima da melhor forma possível.
E isso levará ao objetivo final: atenuar, ou mesmo eliminar, os sintomas despoletados pelo trauma.
De facto, o que se pretende é que o stress resultante da memória traumática deixe de fazer efeito, para que o adulto, ou a criança, possa funcionar no seu quotidiano da forma o mais normal possível.
O que se pretende, com efeito, é que os medos diminuam, para que a pessoa possa fazer as coisas de que mais gosta, para que a perturbação não estrague mais a sua vida.
Procura-se, pois, que haja a colocação de uma certa distância entre a pessoa e o trauma. Isto de modo a haver um lugar seguro sempre que necessário, de modo a que o trauma não se imponha e que a pessoa tenha os comandos da sua vida no seu controlo.
O que é o EMDR afinal?
Há quem postule, como já referimos atrás, que o EMDR não é mais do que o aproveitamento de tudo o que melhor tem a psicoterapia cognitivo-comportamental.
Uma psicoterapia em que se trata das cognições e das perceções negativas e erróneas. Em que se trata das atitudes negativas em relação a si próprio ou à situação traumática, juntando-se-lhe a estimulação bilateral, com movimentos oculares ou com estímulos sonoros e táteis.
Há também quem advogue que acabe por haver no processo a indução de um estado hipnótico… Mas o que é certo, repetimos, é que o EMDR resulta, parecendo, às vezes, um milagre. E as pessoas, muitas vezes, fazem apreciações deste género:
“Nunca pensei que isto me pudesse vir realmente acontecer. Sempre vi as imagens com muita perturbação, sempre as vi tal como as vivi naquele dia fatídico e, no entanto, elas parecem agora ter ido para bem longe, quer dizer, estão lá mas já não me perturbam, já não me causam sofrimento!…”